REALLY PERSONAL | Leaving home behind



Hoje não deu para sorrir. Dizer adeus àqueles que mais amamos é a coisa mais difícil que fiz até hoje. 
Ainda há pouco pensava que o difícil era conseguir entrar no curso que queria, que tão altas notas me exigia. Pensava eu que mesmo que conseguisse, ia ser complicado adaptar-me à vida noutra cidade, noutra "escola". Mas a verdade é que nenhuma dessas coisas me assusta tanto como estar longe do belo rosto da minha mãe e dos preocupados olhos verdes do meu pai. E quando isso é já preocupação, tenho também em pensamento o humor do Diogo. A minha gargalhada não é verdadeira sem ele. Já nem me lembro da última vez em que me ri à séria, sem ele estar presente. "São só 4 dias." , dizem eles para me reconfortar. Quando estamos sozinhos, as horas passam a dias e os dias meses. O tempo tem sido uma das coisas que mais ocupa a minha cabeça. Já nem ligo aos aviões. Acho que já nem os ouço. O tempo assusta-me. 
Porém, quando estou sentada naquele auditório - até mesmo na aula de BMC às 8 da manhã - duas horas parecem meia. Eu acho que cada vez mais me surpreendo. Cada vez mais me convenço de que estou no sitio certo. É como se abrissem   uma gaveta ao calhas e descobrissem aquele par de meias mais confortáveis. Estar na minha faculdade tem sido exactamente isso. Uma escolha certa, mas ao mesmo tempo um ótimo acaso. 
Eu sempre quis estudar Medicina. Mas também sempre tive aquelas dúvidas chatas de: Será que vou gostar? Será que só quero isto porque a sociedade me diz que é um cargo que dá estatuto e garante emprego? Não estarei eu a perder vida? A perder o amor da minha vida  porque faltei àquela festa ou àquele encontro onde ele estaria à minha espera? Será isto para ti, Inês? 
Sei que estou no início da ponta do iceberg. Sei que é precipitado tirar conclusões já.  Mas também sei dizer-vos que aquele é o auditório onde eu pertenço. Os meus valores, as minhas crenças abanam a cabeça  de forma concordante quando ouço qualquer meu professor/doutor a falar, a preparar-me para ser uma futura médica. Não houve ainda momento em que dissesse: O que é que eu estou aqui a fazer se não me identifico com as coisas que me são exigidas?

Não consigo não me identificar. Adoro o que "faço", adoro o que aprendo, adoro o que ensino aos meus pais quando chego a casa (sim, eles ficaram todos orgulhosos quando lhes disse o que era uma articulação temporo-mandibular).
É nestas alturas que as lágrimas que me escorreram pela cara abaixo quando me despedi hoje deles, na estação, me parecem saudáveis. Não há nada tão mais justificável do que chorar pelos sacrifícios que um dia nos farão mais felizes. Se farão? Se valerão a pena? Resta esperar pelos amanhãs de então.

Eu amo-vos e odeio as nossas despedidas. Até sexta, melhores pessoas do meu mundo.

Comentários

  1. Pensa também que tens muita sorte por poderes escolher o teu lugar (: e pensa tambem que nem toda a gente consegue ir a casa com tanta frequência (os meus amigos do norte que estão em Lisboa vêm a casa uma vez por mês ou nem isso porque os transportes são um abuso). Por isso aprende muito - o mais que puderes- e aproveita os dias com a tua família. Eles são as pessoas que não te falham (:

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  2. Admiro essa coragem, de partires para fazeres o que mais adoras :) mas acima de tudo é fundamental a força de vontade que tens dentro de ti para isso! Beijinho Nês **

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